É um transtorno significativo, anteriormente conhecido como transtornos do desenvolvimento global ou transtornos do espectro autista.
Quais são os sintomas do autismo?
Existem duas categorias principais de sintomas associados ao transtorno do espectro autista:
- Deficiências na interação social e nas habilidades de comunicação:
— Falta de interesse por pessoas ou colegas, ou demonstrando atenção mínima em relação a eles.
— Imersão em seu próprio mundo, não respondendo quando seu nome é chamado ou andando nas pontas dos pés.
— Atraso no desenvolvimento da fala, uma interrupção repentina na fala ou regressão nas habilidades linguísticas.
— Falar, mas sem utilizar a linguagem para interação social, repetir palavras ou frases, e inverter pronomes (por exemplo, dizer “ele” em vez de “eu”). - Interesses restritos, comportamentos repetitivos e atividades:
— Movimentos estereotipados e repetitivos, como girar, balançar-se para frente e para trás ou agitar as mãos.
— Uma forte aderência a rotinas, demonstrando grande angústia diante de mudanças.
— Sensibilidade exacerbada a sons, cheiros e sabores específicos.
Quais são as causas do autismo?
A causa exata do autismo permanece indefinida, embora seja amplamente aceito que uma série de fatores genéticos contribua para o desenvolvimento dessa condição. Pesquisadores estão ativamente desenvolvendo tratamentos voltados para corrigir essas irregularidades genéticas. Espera-se que, nos próximos anos, algumas crianças com autismo experimentem melhorias significativas.
Como cuidar de uma criança com autismo:
Primeiramente: Compreendendo seu estado psicológico.
Uma criança com autismo é, acima de tudo, um ser humano com emoções. Ela vivencia a alegria e a felicidade, assim como a tristeza e o sofrimento, mesmo que os motivos por trás desses sentimentos nem sempre sejam evidentes. Como qualquer outra criança, pode estar em um estado emocional e físico positivo, tornando-se mais disposta a interagir com os outros. Em outros momentos, pode sentir-se mal emocional ou fisicamente, o que a leva ao retraimento e à relutância em se engajar ou cooperar.
Em segundo lugar: Promovendo a autoconfiança e a independência
Uma criança com autismo frequentemente enfrenta dificuldades relacionadas à falta de autoconfiança e à ausência de iniciativa. É fundamental incentivá-la a realizar tarefas de forma independente. Deve-se tomar cuidado para não repreendê-la ou gritar com ela caso não execute uma tarefa corretamente, ou cometa erros por conta própria. Reações desse tipo podem minar ainda mais sua confiança e prejudicar seu senso de autonomia. Em vez disso, deve-se orientá-la para a autossuficiência, evitando dependência excessiva de outros e assegurando que suas necessidades não sejam atendidas sem haver algum esforço de sua parte.
Em terceiro lugar: Incentivando a interação e a integração com os pares
Crianças com autismo frequentemente demonstram uma preferência por interagir com adultos em vez de com outras crianças. Isso pode ocorrer porque os adultos são mais compreensivos em relação às suas necessidades, mais familiares ou dispostos a se adaptar para acomodá-las. Contudo, para promover o desenvolvimento social, é essencial auxiliar a criança a se envolver com seus pares. Eles devem guiá-la gentilmente e ensiná-la a brincar e interagir com outras crianças, criando oportunidades para conexões significativas e experiências compartilhadas.
Em quarto lugar: Redirecionando a criança de comportamentos repetitivos
A maioria das crianças com autismo se envolve em movimentos ou ações repetitivas e estereotipadas, muitas vezes persistindo dia e noite. Elas podem ficar angustiadas se forem instruídas diretamente a parar ou se suas ações forem interrompidas de forma abrupta. Portanto, em vez de recorrer a comandos verbais, coerção ou medidas punitivas, é mais eficaz desencorajar tais comportamentos de maneira suave, mantendo-as consistentemente envolvidas em atividades significativas.
Garantir que estejam ocupadas reduz a probabilidade de ações repetitivas e ajuda a canalizar sua energia de forma mais produtiva.
Em quinto lugar: Enfatizando a comunicação
Os seres humanos derivam sua essência da presença do outro, e sua humanidade é medida pela profundidade de suas conexões. Assim, é fundamental concentrar-se no cultivo tanto da comunicação verbal quanto visual ao interagir com uma criança com autismo. Não é suficiente apenas recompensar a criança com o que deseja ao concluir uma tarefa solicitada. Em vez disso, assegure-se de que ela faça contato visual antes de receber a recompensa. Da mesma forma, incentive-a a olhar para a pessoa que lhe fala. Para as crianças capazes de expressão verbal, estimule-as a utilizar a fala como meio para satisfazer suas necessidades e desejos.
Em sexto lugar: Garantindo que a criança compreenda e seja capaz de ter sucesso na tarefa
Ao atribuir uma tarefa ou atividade a uma criança, é imprescindível verificar previamente sua compreensão sobre o pedido. Muitas vezes, a recusa ou resistência de uma criança durante o treinamento não decorre de falta de disposição para cooperar com o professor ou pai, nem de simples desobediência, mas, sim, de um mal-entendido em relação à tarefa proposta.
Sétimo: Treinamento no brincar
Pesquisas e estudos demonstraram que o brincar desempenha um papel fundamental no desenvolvimento, funcionando como um meio de expressão emocional e uma ferramenta terapêutica para tratar distúrbios emocionais. Dada a profunda relevância do brincar na vida humana, é essencial ensinar a uma criança com autismo como se envolver e desfrutar do brincar, bem como compartilhar essas experiências com os outros. Algumas crianças com autismo demonstram preferência por brinquedos construtivos ou mecânicos, organizando-os em padrões ordenados. Essa tendência deve ser aproveitada em seu treinamento e aprendizado para fomentar avanços adicionais.
Oitavo: Unificação das abordagens
O progresso de uma criança com autismo pode não ocorrer, apesar de seguir muitos dos princípios e recomendações mencionados anteriormente. Isso frequentemente se deve à inconsistência nos métodos de interação entre a casa, a escola ou qualquer instituição onde a criança esteja presente. Portanto, é imprescindível que a abordagem utilizada com a criança com autismo permaneça consistente e unificada em todos os ambientes nos quais ela esteja inserida.
Nono: Ensinar a criança a se defender
Uma criança com autismo frequentemente enfrenta dificuldades para se defender e é incapaz de reconhecer ameaças em potencial. Ela pode até falhar em recuperar algo que lhe foi tomado, como sua comida, o que entristece muitas famílias de crianças autistas. Assim, é fundamental ensinar à criança como reagir à agressão, como escapar de fontes de perigo e como se proteger ao enfrentar obstáculos em seu caminho.
Décimo: Ensinar a criança a aceitar mudanças
Se desejamos nos afastar da rotina em nossas interações com uma criança com autismo, é essencial prepará-la para se adaptar e abraçar as mudanças. A criança deve compreender que deve enfrentar a realidade tal como ela é, e não como gostaria que fosse. É importante explicar e esclarecer o que ocorrerá antes de implementarmos qualquer alteração. Assim, devemos iniciar com pequenas modificações, progredindo gradualmente para as maiores.
Terapia Comportamental

Os programas comportamentais são elaborados por especialistas e psiquiatras, em consulta com pais e educadores, com foco principal no aprimoramento e desenvolvimento de comportamentos adaptativos (como o uso do banheiro) ou na mitigação de questões comportamentais (como cuspir). Consequentemente, os programas de terapia comportamental podem proporcionar benefícios práticos significativos. A essência da terapia comportamental reside na análise dos padrões comportamentais em termos de suas causas e consequências, seguida pela implementação de um programa voltado para identificar os fatores que reforçam ou incentivam comportamentos corretos, bem como aqueles que ajudam a desencorajar e extinguir padrões
incorretos ou disruptivos.
O comportamento adequado é recompensado através do método preferido pela criança, aquele com o qual ela se sente confortável, de maneira clara. Ademais, as abordagens contemporâneas da terapia comportamental não apoiam o uso de punições como meio de erradicar comportamentos inadequados. Em vez disso, padrões comportamentais incorretos são atenuados ao cessarem os fatores que anteriormente incentivavam tais condutas, substituindo-os por habilidades mais positivas.
Quando os primeiros indícios de comportamento desejável começam a surgir, mesmo em sua forma rudimentar (como uma criança surda tentando pronunciar uma palavra), torna-se imprescindível empregar diversos métodos com o intuito de acelerar o desenvolvimento do padrão comportamental adequado.
A terapia comportamental pode revelar-se eficaz no tratamento de uma variedade de questões comportamentais, como automutilação, hiperatividade, agressividade e crises de raiva. É igualmente valiosa no treinamento de habilidades de autocuidado, como vestir-se, higiene, e, até certo ponto, habilidades educacionais e parentais.
Os métodos de terapia comportamental têm sido utilizados com sucesso para aprimorar tanto a quantidade quanto a qualidade das habilidades de fala; no entanto, sua eficácia no tratamento de comportamentos sociais, comunicativos e compulsivos não foi demonstrada de forma conclusiva. A razão para isso pode residir no fato de que esses aspectos não são o resultado de um único padrão comportamental que possa ser incentivado ou extinto.
Treinamento de Habilidades Sociais:
O conceito de treinamento de habilidades sociais abrange uma vasta gama de métodos e técnicas voltadas para auxiliar indivíduos com autismo, tanto crianças quanto adultos, a aprimorar suas interações sociais. Visto que cada situação social é única, essa variabilidade inerente torna o processo de treinamento de habilidades sociais, desafiador para educadores e terapeutas comportamentais. Contudo, isso não diminui a importância ou a necessidade de tal treinamento, considerando que as dificuldades enfrentadas por indivíduos com autismo nesse âmbito são evidentes e frequentemente mais intensas do que aquelas observadas em outros domínios comportamentais. Portanto, o enfrentamento desses desafios deve, indiscutivelmente, ser um componente central dos programas educacionais e de treinamento. Exemplos de programas de treinamento de habilidades sociais incluem ensinar adultos com autismo a fazer uma ligação telefônica ou a navegar no processo de compras.
O foco durante o treinamento dessas habilidades vai além dos aspectos puramente tangíveis e práticos, como gerenciar um número de telefone ou contar dinheiro; abrange também as normas sociais e as convenções comumente associadas às habilidades sociais. Isso inclui a maneira de iniciar, manter e concluir uma ligação telefônica, ou como esperar educadamente a vez enquanto se faz compras.
Entre os métodos empregados no treinamento dessas habilidades estão os jogos de papéis, o uso de câmeras de vídeo para gravar e exibir situações, além do treinamento prático em contextos da vida real. De maneira geral, pode-se afirmar que o treinamento de habilidades sociais é, em certo grau, viável, apesar de alguns professores ou instrutores observarem dificuldades em certos indivíduos com autismo, que prejudicam sua capacidade de generalizar as habilidades sociais adquiridas para situações semelhantes, ou até mesmo de esquecê-las completamente. Por vezes, o comportamento social de uma criança autista pode parecer peculiar aos que estão ao seu redor, pois foi aprendido de maneira mecânica, ao invés de ser adquirido de forma natural e espontânea.
É igualmente fundamental observar que existem certos aspectos das habilidades sociais que são particularmente desafiadores de ensinar ou treinar, como a capacidade de perceber as emoções e os pensamentos dos outros, ou de demonstrar empatia para com eles.
Psicoterapia e Autismo:
Diversos médicos e psicanalistas endossam o uso de métodos psicoterapêuticos com os pais de crianças com autismo. Essa abordagem fundamenta-se na premissa de que os pais devem aprimorar suas interações com os filhos para promover um desenvolvimento emocional equilibrado, sendo a psicoterapia o meio mais eficaz para alcançar esse objetivo. Contudo, os estudos não corroboraram a crença de que os pais sejam responsáveis pelo autismo de seus filhos, tampouco que a psicoterapia seja decisiva para fomentar o crescimento emocional equilibrado em crianças com autismo. Não obstante, isso não implica que a psicoterapia seja destituída de valor, tanto para os pais quanto para as próprias crianças. Foi comprovado que certos métodos psicoterapêuticos podem oferecer suporte e orientação valiosos no enfrentamento das circunstâncias desafiadoras associadas ao autismo, assim como ao sofrimento e à depressão que frequentemente o acompanham. Em essência, as técnicas psicoterapêuticas são benéficas na criação das condições adequadas para o enfrentamento das dificuldades psicológicas de maneira segura e neutra. Deve-se, contudo, observar que a eficácia dos métodos psicoterapêuticos permanece limitada quando aplicados a crianças com autismo que enfrentam dificuldades linguísticas.
Em tais casos, a alternativa envolve métodos não verbais, como a terapia através do brincar, que se revelou eficaz no auxílio a crianças com autismo na gestão de sua ansiedade e na participação em brincadeiras de maneira inovadora e criativa. No entanto, os resultados dessa abordagem podem ser contraproducentes quando o terapeuta interpreta o brincar da criança de forma a causar confusão e levar a um embaraço de conceitos.
Este artigo foi publicado na segunda edição da revista (Família muculmana)
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