Um Diálogo Saudável = Uma Relação Conjugal Feliz
Esta é uma verdade corroborada pelas experiências da vida. O caminho para o entendimento mútuo e a conquista da tranquilidade familiar começa com o estabelecimento do diálogo entre os cônjuges e a criação de estruturas para uma comunicação eficaz. O diálogo entre marido e esposa é a chave para fomentar a comunicação e fortalecer o vínculo entre ambos. Quando os cônjuges conseguem estabelecer uma conversa positiva, alicerçada em princípios sólidos, o resultado esperado é uma relação conjugal calorosa e equilibrada, onde ambos se sentem pertencentes um ao outro. Isso, por sua vez, eleva os sentimentos de segurança e conforto, alivia as pressões do trabalho e outras responsabilidades, e diminui a probabilidade de distúrbios psicológicos.
O diálogo continua sendo o segredo para uma relação conjugal bem-sucedida, a equação desafiadora a bordo da nau da vida matrimonial, frequentemente sitiada pelas tempestades da existência. Esse intercâmbio entre os cônjuges assume a forma de conversa, destinada à compreensão dos assuntos familiares, à expressão de preocupações sobre o trabalho e a vida, à revelação de interesses pessoais, aspirações, necessidades, pensamentos, emoções e muito mais. Tal comunicação é moldada tanto pelo conteúdo das palavras quanto pelo estado do falante e do ouvinte. Por exemplo, quando o marido se dirige à esposa com bondade e a encontra atenta, envolvida e interessada, ele responde de forma positiva, aproximando-se dela e forjando uma conexão mais profunda. Por outro lado, quando a percebe distraída, ressentida ou desdenhosa, ele se sente repelido, afastando-se e levando à deterioração do entendimento mútuo. Isso, em essência, resume a natureza do diálogo, embora não seja uma regra imutável.
Tipos de Diálogo
A. O Diálogo Positivo:
Este é o tipo de diálogo que nutre e fortalece o vínculo entre os cônjuges, promovendo uma comunicação eficaz entre eles. Tal diálogo exige tanto a habilidade da articulação quanto a arte da escuta atenta. Um cônjuge fala, enquanto o outro escuta, e o orador deve se destacar na expressão das ideias que deseja transmitir. O ouvinte, por sua vez, deve ser hábil na escuta ativa, observando com agudeza, para compreender plenamente a mensagem e seus significados subjacentes, sejam estes explícitos ou implícitos. Isso implica que uma comunicação eficaz entre os parceiros se fundamenta na consciência mútua da mensagem que cada um deseja transmitir, permitindo, assim, uma escuta cuidadosa e reflexiva.
Pesquisadores descobriram três fatores-chave que distinguem os casais mais satisfeitos: a troca de mensagens claras e diretas, a escuta ativa e a expressão verbal de respeito ou apreço de um parceiro para com o outro. Uma família feliz desfruta de uma comunicação mais frequente e significativa em suas interações, com seus membros engajados em discussões sobre uma ampla gama de tópicos, demonstrando uma compreensão mais profunda do que ouviram e evidenciando uma sensibilidade maior às emoções uns dos outros. Eles complementam suas trocas verbais com inúmeros sinais não verbais. Carinho e carinho, por exemplo, são formas de comunicação emocional que direcionam a interação conjugal para um caminho positivo, enquanto as conversas entre os cônjuges frequentemente revelam um calor humano e uma conexão profunda.
As Características Principais de um Bom Diálogo:
- Discussão: Trata-se de um diálogo marcado pela sinceridade mútua, no qual a perspectiva de cada parceiro se torna claramente compreendida pelo outro. Uma discussão equilibrada e objetiva pode ser um meio poderoso para transformar convicções, conduzindo, eventualmente, a comportamentos diferentes no futuro.
- Adotar a Perspectiva do Outro: Envolve colocar-se no lugar do outro, o que está positivamente correlacionado com a satisfação no relacionamento. Da mesma forma, o contentamento com a relação fortalece a percepção da presença do parceiro, permitindo que sua visão seja considerada.
Como resultado, ambos os parceiros ajustam seu comportamento em diversas situações sociais, com base em uma compreensão mais profunda da perspectiva do outro. Casais que são capazes de considerar os pontos de vista mútuos são mais positivos, demonstrando maior preocupação com as necessidades, interesses e desejos do outro.
- Expressão de Emoções Positivas: emoções positivas podem intervir durante as conversas entre cônjuges, promovendo calor humano e afeto. Tais emoções têm o poder de interromper o ciclo de conflito conjugal, transformando sentimentos negativos em estados mais neutros ou menos contenciosos.
B. O Diálogo “Negativo” e Perturbado:
Embora a comunicação verbal seja fundamental para compreender as atitudes e comportamentos do parceiro, uma comunicação verbal equivocada torna-se uma fonte de conflito conjugal. Casais infelizes frequentemente complicam suas questões por meio de expressões falhas, comunicando seus sentimentos de forma indireta ou vaga, sem conseguir transmitir pensamentos claros e completos. Por exemplo, um marido que está irritado com sua esposa pode expressar seus sentimentos de diversas maneiras:
- Padrão Direto e Explícito: “Você é a razão pela qual as crianças saíram sem o nosso conhecimento.”
- Padrão Indireto: o marido vira as costas para a esposa enquanto ela fala, como se não a estivesse ouvindo.
- Padrão Claro, mas Brincalhão: “Estou bravo com você” (dito à filha enquanto direciona sua raiva para a esposa).
É digno de nota que casais matrimonialmente incompatíveis tendem a perceber os comportamentos positivos de seus parceiros como frutos de circunstâncias externas e transitórias, enquanto atribuem as ações negativas a características intrínsecas de caráter do cônjuge. A discórdia conjugal pode surgir quando um dos cônjuges se concentra unicamente no conteúdo verbal da comunicação, direcionada tanto a si mesmo quanto aos outros, enquanto o outro se foca predominantemente nas pistas não-verbais, seja para si próprio ou para os demais. Como resultado, um parceiro se absorve na substância da conversa, enquanto o outro se sintoniza com seu contexto, criando um abismo na comunicação entre os cônjuges.
Os Tipos Mais Prejudiciais de Diálogo Negativo:
1) O Diálogo Niilista e Derrotista: neste tipo de comunicação, uma ou ambas as partes percebem apenas falhas, erros e obstáculos, conduzindo a conversa a uma conclusão inevitável de “futilidade.”
2) O Diálogo Evasivo (o Jogo de Empurrar e Puxar): aqui, os cônjuges (ou um deles) se envolvem em uma luta verbal, concentrando-se em superar um ao outro, ao invés de buscar o verdadeiro e definitivo desfecho da discussão. Torna-se uma tentativa superficial de afirmar a superioridade.
3) O Diálogo de Fala Dupla: neste tipo de troca, as palavras superficiais transmitem um significado que contrasta com sua intenção mais profunda e oculta, frequentemente carregadas de ambiguidade e insinuações, com o intuito de confundir e desestabilizar a outra parte.
4) O Diálogo Autoritário (Escute e Obedeça): esta forma de diálogo representa uma manifestação ríspida de agressão, onde um dos parceiros desconsidera completamente a existência do outro, considerando-o demasiado insignificante para envolver-se em uma conversa significativa. A única expectativa é que o outro escute as ordens e responda sem questionamentos ou dissenso.
5) O Diálogo de Rua Sem Saída (Não Vale a Pena Falar, Não Vamos Concordar): desde o início, um ou ambos os parceiros declaram sua adesão intransigente a crenças opostas e irreconciliáveis, bloqueando assim qualquer possibilidade de diálogo produtivo. Trata-se de uma forma de extremismo intelectual e miopia, onde o espaço para compreensão é severamente restrito.
6) O Diálogo Passivo-Agressivo (Silêncio de Desafio e Negligência): neste tipo de troca, um dos parceiros recorre a um silêncio deliberado, uma forma de teimoso desafio e ignorância voluntária, com a intenção de antagonizar o outro passivamente enquanto evita o risco de confronto direto.
Essas formas de diálogo geram um grande grau de frustração em um ou ambos os cônjuges; ou bloqueiam qualquer tentativa de progresso, ou diminuem a identidade e a liberdade de um dos parceiros em favor do outro, ou ainda servem como meio de afirmação pessoal por meio da distinção e da diferença, mesmo que à custa da essência da verdade.
A comunicação conjugal não trará frutos a menos que seja acompanhada por uma escuta ativa e empática—uma habilidade imprescindível para qualquer troca eficaz.
Diálogo com Crianças

Um jovem certa vez veio até Rasulullah (sallallahu ‘alayhi wa sallam) e disse: ‘Permita-me cometer zina.’ As pessoas se viraram para ele e o repreenderam, dizendo: ‘Pare, pare.’ Nabiy (sallallahu ‘alayhi wa sallam) disse: ‘Aproximem-se.’ Ele se aproximou e sentou-se.
Nabiy (sallallahu ‘alayhi wa sallam) perguntou: ‘Você gostaria disso para sua própria mãe?’ Ele respondeu: ‘Não, por Allah, que eu possa ser sacrificado por você.’ Nabiy (sallallahu ‘alayhi wa sallam) disse: ‘Nem as pessoas gostam disso para suas mães.’
Nabiy (sallallahu ‘alayhi wa sallam) continuou: ‘Gostaria que acontecesse com a sua própria filha?’ Ele respondeu: ‘Não, por Allah, que eu seja sacrificado por você.’ Rasulullah (sallallahu ‘alayhi wa sallam) disse: ‘Nem as pessoas gostam disso para suas filhas.’
Ele então perguntou: ‘Você gostaria para sua própria irmã?’ ‘Não, por Allah, que eu possa ser sacrificado por você.’ respondeu o jovem. Nabiy (sallallahu ‘alayhi wa sallam) disse: ‘Nem as pessoas gostam disso para suas irmãs.’
Ele (sallallahu ‘alayhi wa sallam) então perguntou: ‘Você gostaria que fosse para sua tia paterna?’ O jovem respondeu: ‘Não, por Allah, que eu seja sacrificado por você’, ao que Nabiy (sallallahu ‘alayhi wa sallam) respondeu: ‘Nem as pessoas gostam para suas tias paternas.’
Nabiy (sallallahu ‘alayhi wa sallam) por fim perguntou-lhe: ‘Gostaria que fosse para sua tia materna?’ Ele respondeu: ‘Não, por Allah, que eu seja sacrificado por você.’ Rasulullah (sallallahu ‘alayhi wa sallam) então disse: ‘Nem as pessoas gostam disso para suas tias maternas.’
Depois disso, Nabiy (sallallahu ‘alayhi wa sallam) colocou a mão sobre ele e recitou a seguinte du’a: Ó Allah! Perdoa seu pecado, purifica seu coração e protege sua castidade.
“Depois disso, este jovem não prestou atenção a nada [proibido].”
Um dos erros educacionais mais comuns que os pais frequentemente cometem é negligenciar a arte e as habilidades do diálogo no seio familiar, especialmente com seus filhos. Isso resulta em uma atmosfera doméstica permeada por diversas formas de conversas disfuncionais e insalubres. Esses diálogos podem incluir trocas frias e formais, desprovidas de calor humano e camaradagem, o que retira da casa o espírito de encontros amistosos. Ou então, conversas altas e disruptivas, onde os gritos dominam, as vozes se elevam e a escuta desaparece, impossibilitando qualquer harmonia ou afeto familiar. Existem também trocas ríspidas e inflamadas—quando um pai, ao ouvir algo perturbador de seu filho, recua de forma imediata e impulsiva, respondendo com palavras severas como “Busco refúgio em Allah” ou “Que Allah te amaldiçoe”, erguendo assim barreiras que impedem um diálogo significativo entre pais e filhos. Nessa situação e através deste Hadith, o Profeta nos ensina as artes e habilidades essenciais para uma comunicação eficaz com nossos filhos, por meio das seguintes lições:
1- Criar um ambiente livre e refinado que permita a manifestação de confissões ousadas de forma aberta, onde até mesmo um jovem se sinta à vontade para declarar sua inclinação para o vício e solicitar a permissão do Profeta para se entregar a ele.
2- Aproximar-se dos filhos com afeto, interagindo com eles e ouvindo atentamente suas preocupações, oferecendo-lhes a oportunidade de expressar suas opiniões e compartilhar suas perspectivas sobre os diversos desafios que enfrentam. Reflita sobre as palavras do Profeta no hadith: “Aproxime-se, e ele se aproximou e sentou-se.”
3- Honrar os sentimentos e pensamentos dos filhos, por mais modestos ou incomuns que sejam, e usá-los como base para promover seu crescimento e orientar sua direção, ou, quando necessário, redirecionar seu curso: “Você desejaria isso para tal e tal?”
4- Manter a serenidade e abraçar o filho durante o diálogo, dominando as próprias emoções e reações, empregando a arte da persuasão e abstendo-se de recorrer à supressão, ordens ou observações críticas.
5- É imprescindível, ao longo da conversa, lembrar que todo ser humano é suscetível ao erro, para que as crianças se sintam encorajadas a compartilhar suas dificuldades com os pais, livres do receio de zombarias ou punições.
6- Ouvir atentamente os filhos e ponderar com diligência suas preocupações, permitindo assim que os pais identifiquem os obstáculos e desafios que os impedem de alcançar seus objetivos, e, subsequentemente, formulem soluções apropriadas.
7- Rejeitar a influência daqueles ao seu redor e empenhar-se em distanciar-se das opiniões externas, dos julgamentos e dos padrões impostos por outrem.
8- Evitar pontos de discordância e iniciar, ao contrário, a partir de áreas de consenso, utilizando o método da persuasão, evitando tons corretivos e afastando-se de choques no diálogo. O Profeta não qualificou diretamente a fornicação como um pecado grave, mas lançou a reflexão: “Se desejas a fornicação com as filhas dos outros, desejarias isso para tua mãe ou para tuas filhas?”
9- Empregar a técnica do reconhecimento, uma das mais refinadas habilidades de negociação, que induz a outra parte a afirmar com um simples “sim” ou “não”, de modo que, ao final da conversa, se alcance uma conclusão unificada.
10- Exercitar a paciência durante todo o curso da conversa, reconhecendo a importância do gesto suave do Profeta e sua oração pelo jovem, conquistando assim a confiança dos filhos, cultivando uma atmosfera de afeto mútuo e refletindo sobre a repetida expressão do jovem, “Que Allah me sacrifique por ti”, bem como o ato do Profeta de “colocar a sua mão sobre ele”.
Em meio a tudo isso, é imprescindível transmitir a mensagem do seu amor pelos filhos e da sua verdadeira preocupação com o bem-estar deles. Ao fazê-lo, o diálogo prosperará e produzirá seus frutos. Reflita sobre o notável êxito da abordagem do Profeta neste incidente, e considere o arrependimento do jovem que se seguiu à sua orientação.
Isso serve como um suave lembrete aos pais para que adotem esses princípios pedagógicos em suas conversas com os filhos, antes que as questões se agravem, os erros se aprofundem e o abismo entre pais e filhos se alargue a ponto de parecer irreparável.
Em cada diálogo, a referência orientadora deve ser a lei divina de Allah, com a adesão ao Alcorão e à Sunnah como os princípios fundamentais, sendo o objetivo final algo inegociável.
Este artigo foi publicado na segunda edição da revista (Família muculmana)
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