UMA ABORDAGEM RACIONAL PARA AFIRMAR A EXISTÊNCIA DE DEUS

Preparado por
Mohammed A. Al-Abdulhay
Apresentador certificado do Islã (BCII), membro do diálogo online para apresentar o Islã

  1. A crença em Deus é inata

Crer em Deus parece ser algo construído na mente e no coração humano. Consequentemente, não é surpreendente descobrir que todas as sociedades humanas ao longo da história, com pouquíssimas exceções, acreditaram na existência de Deus. Se olharmos para a história da humanidade, certamente encontraremos que a maioria das pessoas acreditou em Deus. Filósofos gregos antigos, como Platão e Aristóteles, concluíram racionalmente que Deus deve existir.

Na mesma linha, psicólogos há muito sustentam que a crença em Deus foi adquirida pela educação. Porém, um pesquisador sênior do Centro de Antropologia e Mente da Universidade de Oxford afirma: “se lançássemos um punhado de crianças em uma ilha e elas crescessem sozinhas, acreditariam em Deus”. Em resumo, cada um de nós nasce com um senso inato de crença em Deus, e ele se desenvolve naturalmente. Nossas mentes e sentidos são projetados para acreditar em Deus. Em contrapartida, a descrença em Deus é algo antinatural ao ser humano.

  1. Não existem ateus em trincheiras

Nos momentos de extremo estresse ou medo, todas as pessoas buscam ajuda de um poder superior e procuram esperança. Além disso, fazem súplicas a Deus e O invocam para salvá-las naquele momento difícil. Isso significa claramente que as pessoas realmente afirmam a presença de Deus e acreditam n’Ele.

Essa situação é descrita em um dos Livros de Deus, o Alcorão Sagrado:
“Não viste que os navios navegam no mar pela graça de Allah, para mostrar-vos alguns dos Seus sinais? Nisto há, por certo, sinais para todo homem perseverante e agradecido.
E quando as ondas os cobrem como sombras (isto é, como nuvens ou montanhas de água do mar), eles invocam Allah, fazendo-Lhe súplicas somente a Ele. Mas, quando Ele os salva e os leva à terra firme, alguns deles param entre a crença e a ingratidão. Porém ninguém nega os Nossos sinais, senão todo traidor ingrato.”
(Alcorão 31:31-32, tradução de Dr. Helmi Nasr)

Tomemos como exemplo real o Faraó, rei do Egito no tempo do Profeta Moisés (século XIV a.C.). Faraó negava publicamente a existência de Deus, e dizia ao seu povo: “Eu sou vosso senhor, o altíssimo”. Mas, quando estava se afogando no Mar Vermelho e prestes a morrer, declarou: “Creio na existência de Deus, e que ninguém tem o direito de ser adorado senão Ele”.

O Alcorão descreve esse momento:
“E fizemos os Filhos de Israel atravessarem o mar, e Faraó e seus exércitos os seguiram com injustiça e hostilidade. Até que, quando o afogamento o alcançou, ele disse: ‘Creio que não há divindade além d’Aquele em Quem os Filhos de Israel creem, e sou um dos muçulmanos (os que se submetem à Vontade de Allah).’”
(Alcorão 10:90, tradução de Dr. Helmi Nasr)

Em resumo, algumas pessoas negam exteriormente a existência de Deus, mas no íntimo realmente reconhecem a Sua realidade e buscam refúgio n’Ele em momentos de aflição extrema.

  1. A Lei da Causalidade

Antes de começarmos, vamos primeiro definir a lei da causalidade. A lei da causalidade é a relação entre um evento (a causa) e um segundo evento (o efeito), onde o segundo evento é entendido como consequência física do primeiro.

Está claro que as coisas não passam a existir do nada, sem causa, e que tudo o que vem à existência foi causado por algo. Além disso, nada pode causar a si mesmo a existir, pois isso significaria existir antes de existir, o que é impossível. Será que algo pode simplesmente surgir do nada, sem absolutamente nenhuma causa? Isso não parece razoável, e de fato é impossível.

Suponhamos que há um quadro pendurado na parede e uma criança de 6 anos pergunte: “De onde veio esse quadro?”. Se eu responder: “Ele simplesmente apareceu aí, veio do nada”, será que essa criança aceitaria essa explicação? Certamente pareceria muito estranha.

O ponto é: se vemos uma pintura, sabemos que existe um pintor. Quando olhamos para um edifício, sabemos que há um construtor. Então, quando contemplamos a criação, não deveríamos reconhecer que há um Criador? Por que deveria ser diferente quando falamos de Deus? O mundo, que é muito mais complexo do que um prédio, deve necessariamente ter sido projetado por um grande Designer Divino — Deus.

De acordo com a Cosmologia, o universo teve um início há cerca de 14 bilhões de anos com um evento cósmico conhecido como o Big Bang. A teoria do Big Bang afirma que o universo estava em um estado de altíssima densidade e então se expandiu. Após a expansão inicial (explosão súbita), o universo esfriou o suficiente para permitir a formação de partículas subatômicas e, depois, átomos simples. Nuvens gigantes desses elementos primordiais se juntaram pela gravidade, formando estrelas e galáxias.

Parece que a teoria do Big Bang pode explicar a origem do universo visível, mas não oferece resposta para a causa da explosão inicial, nem explica a origem da nuvem primordial de poeira cósmica. Então, de onde veio essa nuvem? Quem, ou o quê, a criou?

O Raciocínio sobre a Causa do Universo

Imagine que você ouviu um grande estrondo e perguntou: “De onde veio esse som?”. Você ficaria satisfeito com a resposta: “Veio do nada, simplesmente aconteceu”? Claro que não. Você perguntaria: “Qual foi a causa desse grande estrondo?”. Da mesma forma, racionalmente, o Big Bang também deve ter uma causa — um Criador.

Agora podemos perguntar: se o universo tem um Criador, quem criou esse Criador? Então, quem criou o Criador daquele Criador? E assim por diante… Mas isso não pode prosseguir infinitamente, e deve terminar em um Criador não criado.

Podemos concluir que esse Criador deve ser poderoso, já que trouxe todo o universo à existência; deve ser inteligente, pois estabeleceu as “leis da ciência” que regem o universo; deve ser atemporal, imaterial e além do espaço. Finalmente, como não tem causa, deve ter existido sempre. Todos esses atributos formam o conceito básico de Deus: Deus é a Causa Primeira não criada do universo.

Um exemplo do tempo do Profeta Muhammad ﷺ

Recordemos a história real de um árabe do século VII que negava a existência de Deus. Ele foi enviado por seu povo para negociar com o Profeta de Deus, Muhammad ﷺ, sobre alguns assuntos. Quando chegou à cidade, era hora da oração, e o Profeta estava recitando versículos do Alcorão Sagrado. O homem, surpreso, começou a escutar. O Profeta recitava:
“Foram, acaso, criados do nada ou são eles os criadores? (35) Ou criaram os céus e a terra? Não! Eles não têm certeza alguma. (36)”
(Alcorão 52:35-36, tradução de Dr. Helmi Nasr)

Ao ouvir esses versículos, o homem disse: “Meu coração está para voar!”. Reconheceu, então, a existência de Deus e percebeu que havia, de fato, um Criador.

Na verdade, esses versículos apresentam três possibilidades lógicas:

Os seres humanos foram criados do nada — o que é impossível, pois do nada nada vem.

Os seres humanos criaram a si mesmos — o que é contraditório, já que alguém teria que existir antes de existir.

Os seres humanos criaram os céus e a terra — o que está muito além da capacidade humana.

A única possibilidade real é que os seres humanos e o universo foram criados por um Ser que não foi criado — Deus.

  1. A Ordem Perfeita e o Design Inteligente

O filósofo grego Platão já argumentava que o design exige um Designer. Do ponto de vista científico, também vemos ordem e design no universo.

Os ateus alegam analisar cada ideia sob a lente da ciência. Então, usemos a própria ciência para analisar a filosofia ateísta. Existe uma lei fundamental chamada termodinâmica, que define quantidades físicas básicas como temperatura, energia e entropia.

A entropia afirma que “a desordem sempre aumenta com o tempo”. Ou seja, sem controle ou poder superior, todo processo tende ao caos.

Se deixarmos o quarto de crianças sem organização, ele ficará bagunçado. Se deixarmos uma cozinha por uma semana sem limpeza, ela se tornará caótica. Um café quente esfria naturalmente com o tempo.

Porém, as teorias do Big Bang e da evolução sugerem o oposto: que da explosão e de processos aleatórios surgiu uma ordem perfeita. Isso contradiz a própria lei da entropia. É quase como acreditar que, lançando milhões de bombas em um deserto, uma delas resultaria num carro perfeito da Mercedes-Benz!

O universo é uma enorme equação matemática, com complexidade e design perfeitos. A vida mostra um nível impressionante de interdependência, que aponta logicamente para um planejamento inteligente.

Nosso sistema solar e o planeta Terra estão ajustados de forma precisa para permitir a vida. Tudo está em equilíbrio perfeito para que o universo se mantenha e os seres vivos possam existir.

Exemplos de Design Perfeito

Segundo o artigo de Sue Bohlin, há muitos exemplos claros de design inteligente:

A Terra: tem o tamanho exato para manter uma atmosfera adequada. Se fosse menor, como Mercúrio, não teria atmosfera. Se fosse maior, como Júpiter, teria hidrogênio livre, que é venenoso para nós. Além disso, está na distância exata do Sol: se estivéssemos mais perto, queimaríamos; mais longe, congelaríamos. Sua órbita quase circular garante temperaturas adequadas à vida. A rotação em 24 horas distribui uniformemente a energia solar.

A Água: essencial para plantas, animais e seres humanos. O que torna a Terra única é a abundância de água líquida. A água tem propriedades especiais: sobe contra a gravidade, levando nutrientes para o topo das plantas; congela de cima para baixo, permitindo a vida aquática no inverno; e, ao contrário de outras substâncias, se expande ao congelar, mantendo a vida nos lagos e rios.

Vemos, assim, que vivemos em um planeta “exatamente certo” em um universo “exatamente certo”, o que é prova de que tudo foi criado por um Deus amoroso.

O Testemunho do Alcorão

Quando refletimos sobre a ordem no universo, é racional concluir que existe um Organizador. Quando olhamos para sua complexidade, é impossível dizer que aconteceu por acaso. Este universo complexo é a assinatura clara do Criador.

Deus é o Ser Perfeito. Sendo perfeito, Ele deve possuir todas as perfeições — e a existência é uma delas. Deus não apenas criou o universo, mas o sustenta a cada instante.

O Alcorão Sagrado descreve esse equilíbrio perfeito:
“Acaso não fizemos a terra como leito (6), e os montes como estacas? (7), e vos criamos aos pares (8), e fizemos do vosso sono descanso (9), e fizemos da noite um manto (10), e fizemos do dia um meio de subsistência (11), e edificamos sobre vós sete firmes céus (12), e colocamos uma lâmpada resplandecente (13), e fizemos descer das nuvens abundante água (14), para produzir grãos e plantas (15), e jardins frondosos (16).”
(Alcorão 78:6-16)

  1. O VALOR DA MORALIDADE

Ao longo da história, os povos estabeleceram leis e regulamentos destinados a manter a ordem social, proteger os direitos, assegurar a justiça e punir aqueles que cometem crimes. No entanto, a história é marcada por muita dor, injustiça e opressão. Observamos claramente inúmeros casos em que opressores e oprimidos, pecadores e justos não foram julgados de maneira justa e correta. Certos crimes e males não foram devidamente punidos neste mundo, seja porque os criminosos conseguiram escapar, seja por causa da corrupção dos juízes. Muitas punições e reconhecimentos não ocorreram neste mundo. Incontáveis criminosos não foram plenamente punidos, e incontáveis pessoas confiáveis não foram reconhecidas de maneira justa. É lógico pensar que esses criminosos e pecadores simplesmente serão enterrados para sempre no cemitério, sem qualquer prestação de contas?

A história mostra que qualquer forma de negação da existência de Deus resultou em corrupção e imoralidade entre as pessoas. A experiência da história comprova que negar a realidade da existência de Deus e da segunda vida é fatal para a humanidade. Como resultado, espera-se o caos, a corrupção e a desordem na sociedade. Se não houver uma segunda vida e todos tivermos o mesmo fim — simplesmente deixando de existir —, que sentido terá a nossa vida? Se não houver Deus, não existe valor para a moralidade, e nossas vidas não terão nenhum significado ou propósito último. “Se não há Deus, tudo é permitido.” De fato, tudo se torna permissível se Deus não existir.

A abordagem racional é a seguinte: esta vida é um teste, e a justiça final de punições e recompensas será estabelecida por Deus na próxima vida (a Vida Eterna). A justiça plena significa que um registro completo de todas as ações e obras é mantido, de modo que até aquilo que foi esquecido não será perdido. Essa crença funciona como um alarme, um aviso para qualquer pessoa que esteja prestes a cometer um pecado ou erro. Ela também encoraja o ser humano a refletir e mudar de direção para um caminho melhor. Crer na existência de Deus nos lembra de que o bem e o mal são os dois pratos da balança nos quais nossas obras serão pesadas, e nenhuma corrupção moral ficará sem punição.

Em resumo, existe um Deus: O Onisciente, O Sábio, O Justo, absolutamente independente e acima de qualquer parcialidade. Na segunda vida, cada pessoa será julgada de acordo com o desempenho de suas obras neste mundo.

  1. OS MILAGRES

Deus enviou mensageiros para guiar a humanidade ao caminho reto e transmitir a mensagem de compaixão e misericórdia de Deus, bem como chamar a humanidade a adorar somente a Ele. Os Profetas de Deus foram apoiados com milagres para autenticar a mensagem divina e confirmar que aquele mensageiro havia sido enviado por Deus. Em última instância, os milagres serviram para provar a existência e a unicidade de Deus.

Um milagre é definido como um acontecimento extraordinário que supera todos os poderes humanos ou naturais conhecidos e que é atribuído a uma causa sobrenatural (Deus). Normalmente, esses milagres aconteceram pelas mãos dos profetas. Por exemplo:

O Profeta Jesus curou cegos e leprosos e deu vida aos mortos com a permissão de Deus.

O Profeta Moisés tinha um cajado (bastão) que fez jorrar água de uma rocha, e esse mesmo bastão se transformou em uma serpente com a permissão de Deus.

O Profeta Muhammad ﷺ recebeu o Alcorão Sagrado como um milagre eterno. O Alcorão Sagrado, revelado em língua árabe, é um milagre de sabedoria e uma revelação absolutamente verdadeira. É um milagre de pureza de estilo e padrão único. Apesar de os árabes (o povo do Profeta Muhammad ﷺ) serem mestres na eloquência, na poesia e na retórica árabe, eles foram incapazes de produzir sequer um único versículo semelhante a qualquer versículo do Alcorão. O Alcorão permanece preservado da corrupção e continuará inimitável até o Dia da Ressurreição.

Essas ações (milagres) são claramente atribuídas a um Ser sobrenatural e constituem sinais que atestam a verdade: a existência de Deus e a veracidade da religião de Deus.

Sobre o autor

Mohammed A. Al-Abdulhay é engenheiro de petróleo, com vários anos de experiência em dawah. Participou de mais de 20 cursos de dawah que aprimoraram suas habilidades de comunicação. É apresentador certificado do Islã (BCII) e membro de diálogos online para apresentar o Islã. Atua como voluntário ativo no Centro Islâmico de Ahsa, especialmente em atividades de dawah, tendo proferido diversas palestras sobre o Islã entre não-muçulmanos. É também facilitador do workshop “Técnica das 6 Lâmpadas para Dawah”, criado para motivar e inspirar muçulmanos a convidarem não-muçulmanos ao Islã de forma sábia e gentil, já ministrado várias vezes em árabe e inglês.

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