Muhammad ﷺ: Um Modelo para o Novo Milênio

A necessidade humana de modelos de referência

Você já ouviu falar de Moisés, Jesus, Confúcio, Krishna ou Buda? E quanto a Gandhi, Madre Teresa ou Martin Luther King?
Se você vive no Ocidente, é bem provável que conheça um pouco sobre essas pessoas e suas realizações. Na busca eterna do ser humano por imortalidade e sentido, muitos líderes e heróis – tanto verdadeiros como falsos – surgiram no palco da história.

O respeito e a reverência demonstrados a tais figuras por povos de todas as nacionalidades e em todas as épocas apontam para uma necessidade humana profunda: acreditar em alguém maior do que si mesmo, numa tentativa de transcender os limites da própria existência. Vemos esse tema se repetir nos mitos do mundo, nas lendas, nas histórias de heróis e na idealização de pessoas que foram elevadas por seus seguidores a um status sobre-humano ou até divino.

O ceticismo da era moderna

A maioria das pessoas instruídas de hoje é cética e enxerga tais histórias como encantadoras lembranças de uma era mais simples. E com a globalização, somada ao fluxo constante de novas religiões e ideologias às quais as pessoas estão expostas, pode ser difícil saber no que acreditar.

Alguns acham mais fácil ignorar completamente as questões espirituais, concentrando-se em seus relacionamentos, em suas carreiras e em “seguir em frente”. No entanto, sabemos que o materialismo excessivo sufoca a mente e o espírito; apesar dos avanços tecnológicos, a ânsia profunda por acreditar em um Poder Superior, em uma liderança verdadeira e em um propósito último para a vida continua a existir.

E hoje, em nossos tempos, quem pode ser confiado como guia, tanto nas questões espirituais como nas mundanas?

Um líder para todas as épocas

Existe um líder, ainda em grande parte desconhecido no Ocidente, que é um modelo extraordinário ao qual pessoas de todas as origens podem se identificar: o Profeta Muhammad (sallallahu ‘alayhi wa sallam).

Os detalhes da vida notável de Muhammad foram cuidadosamente preservados e submetidos ao escrutínio de historiadores, tanto do Oriente como do Ocidente. Diferentemente de outros que alcançaram renome por suas realizações em uma esfera limitada de atividade, as conquistas de Muhammad abrangem todas as áreas principais da vida.

O historiador Michael H. Hart escreveu:
“Minha escolha de Muhammad para liderar a lista das pessoas mais influentes do mundo pode surpreender alguns leitores e ser questionada por outros, mas ele foi o único homem na história que foi supremamente bem-sucedido tanto nos níveis religioso como secular.”
(Hart, Michael. The 100: A Ranking of the Most Influential Persons in History).

Por que tão pouco se sabe sobre ele no Ocidente?

Por que o europeu ou americano comum sabe tão pouco sobre um homem cuja vida foi tão excepcional?

Medos irracionais e propaganda negativa, que remontam às Cruzadas e foram exagerados pela mídia, criaram um “bloqueio mental” em muitas pessoas contra tudo o que é árabe ou islâmico – sendo que os dois termos são frequentemente confundidos de forma equivocada.

Ao entrarmos na era da “aldeia global”, não é hora de aqueles que se orgulham de ser pensadores independentes e sem preconceitos deixarem de lado esses resquícios mentais de uma era já passada?

Convidamos você a dedicar alguns minutos para explorar uma nova compreensão de liderança religiosa e, ao fazê-lo, ter um vislumbre de um homem que é amado por um quinto da humanidade neste planeta.

O conceito de Profecia no Islã

Para um muçulmano, um Profeta não é, em primeiro lugar, alguém capaz de prever o futuro – embora a maioria das previsões de Muhammad (sallallahu ‘alayhi wa sallam) já tenha se cumprido de formas impressionantes – mas sim um homem enviado por Deus para chamar as pessoas ao arrependimento, à fé e à dedicação da vida às boas ações, ajudando-as assim a redescobrir o propósito para o qual foram criadas.

Os Profetas não são considerados divinos, e não são alvo de preces ou adoração – ainda que fossem homens de caráter e espiritualidade extraordinários, protegidos contra o pecado, que realizaram milagres, receberam revelações e se comunicaram com Deus.

O Islã ensina que Deus é Único, sem parceiro nem associado; nenhum ser humano pode compartilhar das qualidades exclusivas do Criador Inteligente e Sustentador de nosso vasto e complexo universo. Muhammad (sallallahu ‘alayhi wa sallam) não foi mais do que o honrado servo e Mensageiro de Deus, mas ele encarnou o melhor do potencial humano – e é isso que continua a torná-lo tão acessível e inspirador ainda hoje.

Último numa linha de Profetas e Mensageiros enviados por Deus a todos os povos da Terra – incluindo Noé, Abraão, Moisés e Jesus – que transformaram, em larga escala, indivíduos e sociedades, Muhammad foi insuperável como mestre e guia.

Falando de seu papel como o último Profeta verdadeiro antes do Dia do Juízo, ele disse:
“O exemplo de mim em relação aos Profetas que vieram antes de mim é como o de um homem que construiu uma casa bela e bem feita, exceto por um tijolo que faltava em seu canto. As pessoas a contornavam e admiravam sua beleza, mas diziam: ‘Se ao menos aquele tijolo fosse colocado em seu lugar!’ Eu sou esse tijolo, e eu sou o último dos Profetas.”
(Hadith autêntico, narrado por al-Bukhari e Muslim).

A vida pessoal de Muhammad (sallallahu ‘alayhi wa sallam)

Muhammad nasceu no ano 570 d.C., em Meca, em uma família nobre, sendo descendente do Profeta Abraão (Ibrahim sallallahu ‘alayhi wa sallam). Órfão aos seis anos, Muhammad cresceu como um jovem reflexivo, que trabalhou como pastor e ajudava seu tio nas caravanas comerciais.

Ainda adolescente, rejeitou os costumes imorais de seu povo, mergulhado na idolatria, e juntou-se a uma ordem cavalheiresca, conquistando o apelido de Al-Amîn (“O Confiável”).

Aos 25 anos, foi empregado por uma viúva rica de 40 anos chamada Khadijah (radiyallahu ‘anhu), administrando seus negócios. Impressionada por sua honestidade e caráter, Khadijah propôs casamento e ele aceitou. Apesar da diferença de idade, foram casados felizmente por 25 anos e tiveram seis filhos.

Após a morte de Khadijah, Muhammad (sallallahu ‘alayhi wa sallam) casou-se com outras mulheres por razões políticas e humanitárias – como era esperado de um homem de sua posição; todas, exceto uma, eram viúvas ou divorciadas. Ele foi um marido e pai amoroso e atencioso, e sua família era profundamente devotada a ele, apesar de sua pobreza voluntária, pois ele mesmo punha em prática seu conselho:
“O melhor de vocês é aquele que é o melhor com sua própria família.”
(Hadith autêntico, narrado por al-Tirmidhi).

Muhammad, o Profeta

Muhammad (sallallahu ‘alayhi wa sallam) recebeu sua primeira revelação de Deus aos 40 anos, por meio do Anjo Gabriel (Jibril ‘alayhi ssallam). Continuou a receber revelações por 23 anos, tratando de temas que iam desde a Unicidade de Deus e Sua obra maravilhosa, até histórias de Profetas anteriores, moral e ética, e a vida após a morte.

Essas revelações ficaram conhecidas coletivamente como o Alcorão (Al-Qur’ān), considerado pelos muçulmanos a palavra literal de Deus. Já as próprias palavras do Profeta foram registradas separadamente.

Seu chamado ao monoteísmo e à reforma social foi fortemente combatido pela elite de Meca. Após treze anos de intensa perseguição, ele e seus seguidores foram convidados a se estabelecer em Madinah, cidade ao norte, dilacerada por gerações de guerras tribais.

Muhammad conseguiu reconciliar as facções inimigas e forjar um vínculo de fraternidade entre os locais e os emigrantes de Meca. Para a sociedade tribal árabe, isso foi uma conquista extraordinária.

Sob sua orientação, os primeiros muçulmanos aprenderam a viver segundo a regra de ouro:
“Nenhum de vocês realmente crê até que deseje para seu irmão aquilo que deseja para si mesmo.”
(Hadith autêntico, narrado por al-Bukhari e Muslim).

O legado de Muhammad: o modelo de Madinah

Para Muhammad (sallallahu ‘alayhi wa sallam), religião não era apenas questão de convicção pessoal, mas um modo de vida completo. Madinah floresceu sob sua liderança.

O modelo de governo de Madinah, baseado na justiça, no respeito pela dignidade humana e na consciência de Deus (taqwa), tornou-se referência para os muçulmanos em todas as épocas. O Profeta redigiu a primeira constituição do mundo, na qual os direitos das minorias religiosas eram protegidos, e firmou tratados e alianças com tribos vizinhas.

Enviou cartas aos governantes da Pérsia, Egito, Abissínia e Bizâncio, anunciando sua mensagem de monoteísmo puro e convidando-os a aceitar o Islã.

Pela primeira vez na história, mulheres, crianças, órfãos, estrangeiros e escravos receberam direitos amplos e proteção. Muitas das preocupações do Profeta parecem surpreendentemente “modernas”: condenou o racismo e o nacionalismo, dizendo:
“Não há superioridade do árabe sobre o não-árabe, nem do branco sobre o negro, exceto na piedade.”
(Hadith autêntico, narrado por Ahmad).

Ele estabeleceu leis de proteção aos animais, às árvores e ao meio ambiente. Incentivou o comércio livre e os investimentos éticos, mas garantiu os direitos dos trabalhadores e proibiu a usura.

Trabalhou pela paz, mas definiu parâmetros para o uso justo da força quando esta se fazia necessária. Conseguiu que as pessoas abandonassem álcool, drogas, prostituição e crime, promovendo uma vida saudável. Condenou a violência doméstica, incentivou suas esposas a expressarem suas opiniões e concedeu às mulheres muçulmanas direitos que a Europa só sonharia séculos depois: o direito à propriedade, a rejeitar casamentos arranjados e a pedir divórcio por incompatibilidade.

O Profeta também encorajava seus seguidores a buscar conhecimento benéfico onde quer que fosse encontrado. O resultado é que os muçulmanos nunca viveram um conflito entre ciência e religião, e lideraram o mundo em muitos campos do saber durante séculos.

Embora seu legado possa ser observado em tudo, da arte à política, a maior realização de Muhammad foi restabelecer o monoteísmo puro (tawhid). Simples e direto, como o núcleo no centro de um átomo, o conceito de um Único Deus está no coração da cultura islâmica.

Os muçulmanos voltam-se a seu Criador em busca de orientação, sem a necessidade de intermediários e sem a perda de dignidade que a idolatria e a superstição trazem.

O exemplo vivo de Muhammad (sallallahu ‘alayhi wa sallam)

O Profeta realizou tudo isso pela força de seu caráter e pelo exemplo pessoal. Inspirou em seus seguidores um amor, uma devoção e um respeito inigualáveis.

Enquanto outros homens seriam corrompidos pelo poder absoluto que ele deteve em seus últimos anos, Muhammad permaneceu humilde, sempre consciente da Fonte de suas bênçãos.

Ele dizia:
“Eu sou apenas o servo de Deus.”
E também:
“Não fui enviado senão como mestre.”

Embora passasse seus dias servindo as pessoas e suas noites em oração, pregava a moderação e o equilíbrio; proibiu seus seguidores de adotar o monasticismo, preferindo que formassem famílias fortes e se engajassem em melhorar o mundo ao seu redor, permanecendo sempre conscientes de Deus.

O impacto histórico

No curto espaço de uma geração, ainda durante sua vida, o Profeta Muhammad (sallallahu ‘alayhi wa sallam) transformou a fé, a mentalidade e a cultura do povo da Arábia. Em menos de 100 anos, sua mensagem havia tocado os corações e vidas de milhões na África, Ásia e partes da Europa.

O Profeta previu que cada geração subsequente seria pior que a anterior, e, como ele predisse, os muçulmanos nem sempre compreenderam ou honraram seu exemplo.

No entanto, os ensinamentos, discursos e costumes de Muhammad foram cuidadosamente registrados por seus Companheiros (Sahabah radiyallahu ‘anhum) e compilados em livros de ditos autênticos (hadiths), hoje disponíveis em tradução.

Juntamente com o Alcorão, formam a base integral de um modo de vida completo e satisfatório para o muçulmano praticante e, para os demais, oferecem um vislumbre fascinante do coração e da mente de um homem excepcional – um modelo do qual ainda há muito a se aprender.

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